domingo, 25 de novembro de 2012

Greed is out, Empathy is in.

"Greed is out, Empathy is in." Frans de Waal, The Age of Empathy - Nature´s Lessons for a Kinder Society. Neste livro Waal analisa vários mitos que nos (des) orientam e às sociedades em que vivemos e destaca dois aspectos fundamentais a partir de lições da Natureza. Um, o de que a célebre “lei do mais forte”, retirada por Spencer do discurso económico, não tem a prevalência que insistentemente lhe querem atribuir e assim, tanto ou mais do que territorialistas e competitivos, somos seres cooperativos, sensíveis à injustiça e desejosos de paz e harmonia. Outro, o de que a capacidade e manifestação de sentimentos de empatia além de ser remota na história evolucionária, está presente quer nos humanos quer em outros mamíferos, apesar de muitos o quererem negar tanto nuns quanto noutros. Um livro a ler, a dissecar e a divulgar.

sábado, 16 de junho de 2012

arte de viver e técnicas do espírito

Numa fase anterior das minhas pesquisas sobre as sociedades contemporâneas, configurei o actual estado do sujeito na sua mecânica repetição de rotinas de consumo e apático alheamento de valores essenciais, com o da melancolia. Interrogava-me se não estaríamos imersos numa melancolia civilizacional, diagnosticável no sujeito e em grupos alargados à sua volta, numa mise-en-abîme que se constituía como presença invisível nas sociedades actuais. Posteriormente percebi a impossibilidade dessa proposição. É que, o que é próprio do estado melancólico é o processo de individuação. Ao sentir e pensar estou melancólico o sujeito vem a si, toma consciência de si. E, o que se passa na actualidade, é um processo de desindividuação. Constatamos que a tendência é de que não se configure sequer espaço/tempo para a emergência da melancolia. O sujeito está permanentemente convocado para uma rotina de consumo/produção/exteriorização, para uma permanente programação do seu tempo, nomeadamente o seu tempo livre e, inserido numa lógica de exaltação do negócio. Ora, o estado melancólico é em si mesmo um processo de individuação e intrinsecamente relacionado com o tempo de si, com o otium enquanto culto da singularidade e da individuação que, como frisa Stiegler, o advento do negotium (nec-otium) veio aniquilar. Com efeito, na pós-modernidade em que nos encontramos neste início de século XXI, constatamos que a par do notório desenvolvimento científico e tecnológico dos últimos séculos, se perdeu um proporcional desenvolvimento das técnicas do espírito. E assistimos a uma forte incrementação de técnicas de desindividuação e de des-subjectivação, que reduz o valor da excepção e do singular, com a consequente redução da consciência de si do sujeito., in A Rapariga Que Queria Ser Feliz Todos Os Dias, vide "alienação civilizacional, arte e melancolia", artciencia.com [http://www.artciencia.com/index.php/artciencia/article/view/47],

cenas banais

dois homens conversam, um terceiro vai absorto num projecto de evasão : acompanhar o trajecto do sol e o movimento da lua, a qualquer momento poder parar e estar no tempo presente sem necessidade de desviar o olhar daquilo que não se quer ver (...) pessoas que calam porque lhes é demasiado grande o que têm para dizer. in "a rapariga que queria ser feliz todos os dias", d´Orzac, 2012

sexta-feira, 25 de maio de 2012

sou nada e ninguém me vê

Sou nada e ninguém me vê. O tempo passa sempre igual e neste vazio rotineiro em que se tornou a minha vida arrasto a minha pouca coragem. Há dias o comboio parou. Alguém se atirou à linha e stop enquanto se desenrolavam os processos legais. Ficámos todos dentro das carruagens, primeiro perplexos, depois ansiosos e logo excitados e com nervoso miudinho. Tagarelavam sobre o assunto como se fosse tema de convívio. Agitação, gente nos corredores, telefonemas, espreitar pelas portas e janelas. Uma estrangeira interrogava porque se riam as pessoas, porque falavam com tal vivacidade. Sentia ela como se tivesse esmagado, a própria feita máquina, o corpo ainda quente na primeira pessoa do singular com ferro e metal. Sentia debaixo de si. A massa de sangue nos carris. Eu fiquei calmo. Não tinha pressa. Não ia a lado nenhum. Nada de novo. E ali estava acompanhado. Deixei-me ficar sentado. Pus-me a imaginar o espírito do suicida a deixar a carne sem vida. A passar por nós e a elevar-se no ar como um balão que se desprende da mão de uma criança empurrado pelo vento. Amen. Que assim seja. Agora também estou calmo. Ninguém me vê e todas as semanas há mais um que se atira à linha. De todas as vezes me interrogo: será neste? - A Rapariga Que Queria ser Feliz Todos os Dias, d´Orzac, 2012.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

The End of Anthropocentrism?

The trouble with human beings is not really that they love themselves too much; they ought to love themselves more. The trouble is simply that they don’t love others enough.
"The End of Anthropocentrism?”, Mary Migdley, Cambridge University Press, 1994.
Mary Migdley (1919)

segunda-feira, 23 de abril de 2012

a ecologia da mente


“o problema de como transmitir as nossas razões ecológicas àqueles que queremos influenciar com o que nos parece ser a “boa” direcção ecológica é em si mesmo um problema ecológico. Não estamos fora da ecologia que planeamos – somos dela uma parte inevitável.”

Bateson, Steps to an ecology of mind, The University of Chicago Press,Ltd., London, foreword by Mary Catherine Bateson, (1972), 2000.

Gregory Bateson (1904- 1980)

Photo courtesy of Barry Schwartz.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Umwelt e Innwelt


“Não é a dilatação do espaço do nosso mundo-próprio em milhões de anos-luz que nos eleva acima de nós próprios mas o reconhecer que, além do nosso mundo pessoal, também os mundos-próprios dos nossos irmãos humanos e irracionais estão contidos num plano que tudo abrange.”

Uexkull, Dos Animais e dos Homens, Livros do Brasil, 1982.


Jacob von Uexkull (1864-1944)

quinta-feira, 5 de abril de 2012

manifesto do humanismo *



“como o livre e extraordinário criador e modelador de ti próprio, podes moldar-te na forma que preferires. Podes degenerar nas coisas baixas, que são brutas; podes regenerar, seguindo a decisão da tua alma, nas coisas elevadas, que são divinas."

Pico della Mirandola (1463-1494)



Pico della Mirandola, Giovanni, Oratio/Discorso, ed. Saverio Marchignoli, in Pier Cesare Bori, Pluralità delle vie. Alle origini del «Discorso» sulla dignità umana di Pico della Mirandola, Feltrinelli, Milão, 2000. [Discurso sobre a Dignidade do Homem, trad. Port. Maria de Lurdes Sirgado Galho, Lisboa, Edições 70, 1989].

* assim lhe chama Agamben em L´ Aperto. L´uomo e l´animal.