sábado, 16 de junho de 2012

arte de viver e técnicas do espírito

Numa fase anterior das minhas pesquisas sobre as sociedades contemporâneas, configurei o actual estado do sujeito na sua mecânica repetição de rotinas de consumo e apático alheamento de valores essenciais, com o da melancolia. Interrogava-me se não estaríamos imersos numa melancolia civilizacional, diagnosticável no sujeito e em grupos alargados à sua volta, numa mise-en-abîme que se constituía como presença invisível nas sociedades actuais. Posteriormente percebi a impossibilidade dessa proposição. É que, o que é próprio do estado melancólico é o processo de individuação. Ao sentir e pensar estou melancólico o sujeito vem a si, toma consciência de si. E, o que se passa na actualidade, é um processo de desindividuação. Constatamos que a tendência é de que não se configure sequer espaço/tempo para a emergência da melancolia. O sujeito está permanentemente convocado para uma rotina de consumo/produção/exteriorização, para uma permanente programação do seu tempo, nomeadamente o seu tempo livre e, inserido numa lógica de exaltação do negócio. Ora, o estado melancólico é em si mesmo um processo de individuação e intrinsecamente relacionado com o tempo de si, com o otium enquanto culto da singularidade e da individuação que, como frisa Stiegler, o advento do negotium (nec-otium) veio aniquilar. Com efeito, na pós-modernidade em que nos encontramos neste início de século XXI, constatamos que a par do notório desenvolvimento científico e tecnológico dos últimos séculos, se perdeu um proporcional desenvolvimento das técnicas do espírito. E assistimos a uma forte incrementação de técnicas de desindividuação e de des-subjectivação, que reduz o valor da excepção e do singular, com a consequente redução da consciência de si do sujeito., in A Rapariga Que Queria Ser Feliz Todos Os Dias, vide "alienação civilizacional, arte e melancolia", artciencia.com [http://www.artciencia.com/index.php/artciencia/article/view/47],

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