quinta-feira, 5 de abril de 2012

Quão Diferente Pode Ser O Olhar








Henry David Thoreau (1817-1862), Giorgio Agamben (1942), Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955)






Ela deteve-se a olhar para os retratos. Quão diferente pode ser o olhar!

in A Rapariga Que Queria Ser Feliz Todos Os Dias, D´Orzac, 2012.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

L´aperto. L´uomo e l´animal.



“O que é o homem, se este é sempre o lugar – e, simultaneamente, o resultado – de divisões e cesuras incessantes? Trabalhar sobre estas divisões, interrogarmo-nos sobre o modo como – no homem – o homem foi separado do não-homem e o animal do humano, é mais urgente do que tomar posição sobre as grandes questões, sobre os supostos valores e direitos humanos. E, talvez, também a esfera mais iluminada das relações com o divino dependa, de algum modo, daquela – mais obscura – que nos separa do animal.

Agamben, L´aperto. L´uomo e L´animal, 2002



segunda-feira, 2 de abril de 2012

Walden ou a Vida nos Bosques



Terminei hoje a leitura de Walden ou a Vida nos Bosques, do Thoreau.
Não, não é, tão contrariamente ao que me diziam, a apologia do "bom selvagem".
Está muito para além disso!
Se é, por um lado, e é-o, uma reflexão critica e lúcida sobre a luta entre o ser e o parecer, entre o ser e o ter, entre o ser e o poder;
sobre a dicotomia entre o humano e a Natureza que o advento do progresso no sec. XIX preconizou;
sobre a profunda sabedoria que o contacto directo com o que a vida natural na sua majestosa e essencial simplicidade reúne e retém;
sobre a maravilha e o milagre da vida na Terra, do Vivo e dos que vivem;
é-o, igualmente, sobre os mistérios dos desígnios humanos e supra-humanos na sua transcendência enriquecedora;
e é, em suma, um manual de existência em qualquer sítio do mundo e em qualquer época, quer na mais tecnocrática cidade e estilo de vida, quer no seu oposto, quer no que os medeia.
Uma obra fundamental,
uma obra essencial.

27 de Setembro, 2011.

Lagos
Portugal
Europa
Mundo
Planeta Terra
Universo

in A Rapariga Que Queria Ser Feliz Todos Os Dias, Ilsa D´Orzac (2012)



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

a natureza da Natureza


"aberrações da contemporaneidade pós-pós moderna: escrevem o nome de qualquer pessoa ou empresa, agência bancária ou negócio, com maiúscula mas com n bem pequenino Natureza, como se fosse apenas uma evidente banalidade", in A Rapariga Que Queria Ser Feliz Todos Os Dias, Ilsa D´Orzac (2012)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

MAPACORPO OU O MOVIMENTO DA MENTE

“Quando do nascimento de artes como a música, a dança e a pintura, terá havido provavelmente a intenção de comunicar aos outros informação sobre ameaças e oportunidades, sobre tristeza ou alegria, e sobre o modelar do comportamento social. No entanto, em paralelo com a comunicação, a arte teria também produzido uma compensação homeostática. Se assim não fosse como teria prevalecido?”
(Damásio, 2010:361)

MAPACORPO projecto de dança que apresenta duas intérpretes, um músico e um artista plástico em palco. Cartografia onírica que se constrói na intersecção dialógica de três paisagens de composição, a paisagem do movimento dos corpos, a paisagem gráfica e a paisagem sonora. Movimentos coreografados que se consubstanciam na imagética entrelaçada de aves ondulantes em angulosidades que se metamorfoseiam no acelerado crescimento de plantas, caules e bolbos, asas que se espraiam e regressam ao centro para abrir de novo, partir e retornar. Retornar ao centro, à inscrição uterina com que o espectáculo começa, dois corpos que se fundem num corpo duplo, alteridade de si mesmo - és tu o duplo de mim ou és o outro em que me projecto, com quem me interligo, fundo e de quem me separo? -, no seio de um círculo matricial unificador onde este corpo se liga e desliga mantendo-se conectado. O que é próprio do sonho é a mudança errante, viagem das imagens onde o círculo se substitui ao quadro, território delimitado, cadrage onde de novo se (re) constrói o encontro do duplo para retornar ao corpo, desta feita retorno mais literal, materialização de um conceito geográfico, territorial, do esqueleto, fusão de dois corpos orgânicos com um plano de projecção gráfica, desenhada, projecção mental pois tudo isto é mental, corpo-mente em devaneio ou, nas palavras da coreógrafa, corpo que projecta o movimento ordenado e desordenado da mente.

Tessitura musical intersticiada na composição tripartida, malha subreptícia que tudo liga numa vibração tonal; catarse de osmose plástica e sonora; diálogo entre o corpo e o traço e a cor; entre o corpo e o som; entre a action painting e o lugar povoado.
A feminilidade sempre presente, sempre latente, num casulo de luz e cor, frases musicais intensas e contidas, sussurrantes ou esdrúxulas, até à exaustão de um clímax de imagem e som que apenas encontra reflexo na suspensão absoluta de tudo o que está em cena, paragem cardíaca dos corpos, do movimento, do tempo; síncope de onde tudo recomeça para retornar ao eu, desta feita a sós, em solos dialogantes ou em spots fixos, paragens retinianas onde o corpo é tela por onde ao acaso se cruza o traço ou que totalmente se cobre de neve.
De onde se retém a sensualidade do femina mas ainda no estado de pureza que quase toca mas antecede a imagética lesbos e a narcísica; de cuja latência se retêm a beleza inerente à leveza da feminilidade ainda, quase, desnudada de intenções.
E o equilíbrio da multiplicidade está sempre lá, presente, em cena, composição a quatro, equilíbrio masculino em contraponto, constructor e intencional, ainda aqui a dialogia com o duplo, com o outro, que és tu, que sou eu, mise-en-abîme de projecção do feminino masculino em mim e em ti que estás aqui comigo em palco mas estás também aí espectador, expectante, a assistir ao desenrolar de um filme de animação/concerto live, com personagens reais, em tempo real.

Évora, 16 de Outubro 2010.

Bibliografia

DAMÁSIO António, O Livro da Consciência – A Construção do Cérebro Consciente, Temas e Debates, Lisboa, 2010.

MAPACORPO
Direcção, coreografia: Amélia Bentes
Orientação coreográfica: Lia Rodrigues
Interpretação: Amélia Bentes e Leonor Keil
Apoio dramatúrgico: Paulo Filipe
Música ao vivo: Vitor Rua
Desenho digital em tempo real: António Jorge Gonçalves
Figurinos: Carlota Lagido
Luzes: Cristina Piedade
Duração: 45min
Projecto financiado pela Dgartes – Ministério da Cultura
Co-produção Centro Cultural de Belém
Produção executiva ACCCA, Companhia Clara Andermatt
Gestão financeira: Produções Independentes, Associação
Apoios: Escola Superior de Dança, Atlético Clube de Moscavide

nota: publicado em http://www.artciencia.com/
Ano VI ● Número 13 ● Outubro 2010 - Fevereiro 2011

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

"No más invenciones increíbles para la muerte" - La Acción de Mujeres al Pentágono, 1980



Hace 30 años, 2.000 mujeres rodearon el Pentágono en Washington, D.C.:

"Entendemos que todo está conectado. La tierra nos alimenta y finalmente nuestros cuerpos alimentarán la tierra. Por medio de nosotras, nuestras madres unieron el pasado humano con el futuro humano. Con este entendimiento, este derecho ecológico, nos oponemos a las conexiones monetarias entre el Pentágono y las corporaciones multinacionales y los bancos a los que el Pentágono sirve. Estas conexiones están hechas de oro y petróleo..."

El 17 de noviembre de 1980:

2.000 mujeres estadounidenses rodearon el edificio del Pentágono, en Washington D.C., en una acción de desobediencia civil diseñada para expresar la indignación de las mujeres por la política militar y armamentística del gobierno de los Estados Unidos.

Las mujeres que participaron en la manifestación crearon una cadena humana alrededor del edificio en un simbólico abrazo que reivindicó la necesidad de proteger la vida y la naturaleza en la tierra ante el peligro de la guerra y la destrucción nuclear.

Estos fueron sus argumentos:
Declaración de Unidad de la Acción de Mujeres al Pentágono, noviembre de 1980

Nos reunimos en el Pentágono el 17 de noviembre porque tememos por nuestras vidas. Tememos por la vida de nuestro planeta, y la vida de los niños y las niñas, que son nuestro futuro humano. Hemos venido de luto y con rabia, para desafiar al Pentágono porque es el lugar de trabajo del poder imperialista que nos amenaza. Cada día mientras trabajamos, estudiamos, amamos, los coroneles y los generales que planean nuestra aniquilación entran y salen tranquilamente por las puertas de sus cinco lados. Para llevar a cabo sus planes han estado produciendo entre 3 y 6 bombas nucleares al día. Han acumulado más de 30.000. Han inventado la bomba de neutrones, que mata a las personas pero deja intactas las propiedades y los edificios como éste. Han producido el misil MX y su sistema subterráneo de un billón de dólares que agujereará miles de millas de nuestros países occidentales y consumirá su recurso más delicado ---el agua. Están creando una tecnología llamada Stealth- el arsenal invisible y imperceptible. Ya han destinado 20 millones de dólares para resucitar el viejo y cruel gas nervioso mortal. Han proclamado la Directiva 59, que habla de "pequeñas guerras nucleares, prolongadas pero limitadas." Están hablando de un ataque inicial ("first strike")... Estamos en las manos de hombres que poseen el poder y la riqueza, y esto les ha separado de la realidad de la vida diaria y de la imaginación. Con justa razón estamos asustadas. Al mismo tiempo nuestras ciudades están arruinadas, en bancarrota, y sufren la destrucción de la guerra. Han cerrado hospitales. A nuestras escuelas les faltan libros y maestros. A nuestra juventud afro-americana y latina les hace falta trabajo decente. Estos jóvenes serán forzados, alistados para ser carne de cañón del mismo poder imperialista que los oprime. Cualquier ayuda que la clase pobre recibe es cortada o eliminada para engordar al Pentágono, que necesita $500.000.000 diarios para cometer sus crímenes. Este año usarán $157 billones de nuestros impuestos. Con esta riqueza nuestros científicos han sido corrompidos: más del 40 por ciento de ellos trabajan en laboratorios del gobierno y corporaciones refinando los métodos para destruir o deformar la vida. Los terrenos de los indios americanos han sido convertidos en basureros radioactivos para agrandar los almacenes nucleares. El uranio de Suráfrica, necesario para las empresas nucleares, enriquece a la minoría blanca y fomenta el vicioso sistema racista de opresión y guerra. En el reciente accidente de Arkansas hubo el peligro de que una cabeza nuclear con el poder de 750 Hiroshimas explotara. El miedo existente entre la gente es creado por las industrias militares y es usado como excusa para acelerar la carrera armamentística. “Nosotros los protegeremos”, nos dicen, pero nunca hemos estado tan en peligro y tan cerca del fin. Nosotras las mujeres nos estamos reuniendo porque la vida en el precipicio es intolerable. Queremos saber qué clase de coraje y de miedo tienen estos hombres que solamente se puede satisfacer con la destrucción: ¿qué corazón tan frío y qué ambición mueve sus días? Queremos saber, porque no deseamos la continuación de esa dominación tan explotadora y criminal en las relaciones internacionales y tan peligrosa para mujeres y niños en este país... no queremos que esta enfermedad sea transmitida por la sociedad violenta de padres a hijos. ¿Qué es lo que nosotras las mujeres necesitamos en nuestras vidas diarias? ¿Qué es lo que queremos para nosotras mismas y para nuestras hermanas en naciones nuevas y antiguas colonias, las que sufren la explotación del blanco y muchas veces la opresión de sus propios hermanos? Queremos suficientes alimentos de buena calidad, trabajos y viviendas decentes, y comunidades con aire y agua limpia; buenos centros infantiles para nuestros niños mientras trabajamos. Deseamos salario igual por trabajo de igual valor. Queremos un cuidado médico que respete y entienda nuestros cuerpos. Queremos una educación para nuestros niños en la que se enseñe la historia verdadera de nuestras mujeres; que describa la tierra como un hogar que se debe amar y alimentar a la vez que se cosecha. Queremos liberarnos de la violencia en nuestras calles y en nuestras casas. El poder social penetrante del ideal masculino y la avaricia del pornógrafo se han juntado para robar nuestra libertad, de modo que nos han quitado vecindarios enteros, y la vida de la tarde y la noche. Para las mujeres, muchas veces la oscuridad del camino rural y del callejón de la ciudad ha escondido al violador. Queremos el retorno de la noche y la luz de la luna, que son especiales en los ciclos de nuestras vidas, las estrellas y la alegría de las calles urbanas. Queremos el derecho a decidir si tener o no tener niños. No queremos que grupos de políticos y hombres de medicina nos digan que debemos ser esterilizadas por el bienestar del país. Sabemos que esta técnica es el método que usa el racista para controlar poblaciones. Ni queremos que se nos impida un aborto cuando lo necesitamos. Creemos que esta libertad de escoger debe de estar al alcance de mujeres pobres, como siempre lo ha estado para las ricas. Queremos ser libres para amar a quien queramos. Viviremos con mujeres, o con hombres, o viviremos solas. No permitiremos la opresión de la lesbiana. Un sexo o una preferencia sexual no debe dominar a otra. No queremos ser alistadas en las fuerzas armadas. Ni tampoco queremos que nuestros hermanos sean alistados. Queremos que tengan los mismo derechos que nosotras tenemos. Queremos ver el final de la patología del racismo en nuestras vidas. No puede haber paz mientras una raza domina a otra. Queremos que el uranio se quede en la tierra y que la tierra sea devuelta a la gente que la cultiva. Queremos un sistema de energía que sea renovable, que no saque los recursos de la tierra sin devolverlos. Queremos que estos sistemas pertenezcan a la gente y a sus comunidades en vez de a las corporaciones, las que invariablemente convierten sabiduría en armas. Queremos que la farsa de Átomos para la Paz se acabe, que desmantelen las plantas nucleares, y dejen de construir plantas nuevas. Ésa es otra guerra contra la gente y el niño que nacerá en cincuenta años. Queremos que la producción acelerada de armas termine. No más bombas ni más invenciones increíbles para matar. Entendemos que todo está conectado. La tierra nos alimenta y finalmente nuestros cuerpos alimentarán la tierra. Por medio de nosotras, nuestras madres unieron el pasado humano con el futuro humano. Con este entendimiento, este derecho ecológico, nos oponemos a las conexiones monetarias entre el Pentágono y las corporaciones multinacionales y los bancos a los que el Pentágono sirve. Estas conexiones están hechas de oro y petróleo. Nosotras estamos hechas de sangre y hueso, estamos hechas del dulce recurso, agua. No vamos a permitir que sigan jugando estos juegos tan violentos. Si hoy estamos aquí un centenar de mujeres decididas, es seguro que volveremos con miles y cientos de miles más en los meses y años futuros. Queremos el derecho a decidir si tener o no tener niños. No queremos que grupos de políticos y hombres de medicina nos digan que debemos ser esterilizadas por el bienestar del país. Sabemos que esta técnica es el método que usa el racista para controlar poblaciones. Ni queremos que se nos impida un aborto cuando lo necesitamos. Creemos que esta libertad de escoger debe de estar al alcance de mujeres pobres, como siempre lo ha estado para las ricas. Queremos ser libres para amar a quien queramos. Viviremos con mujeres, o con hombres, o viviremos solas. No permitiremos la opresión de la lesbiana. Un sexo o una preferencia sexual no debe dominar a otra. No queremos ser alistadas en las fuerzas armadas. Ni tampoco queremos que nuestros hermanos sean alistados. Queremos que tengan los mismo derechos que nosotras tenemos. Queremos ver el final de la patología del racismo en nuestras vidas. No puede haber paz mientras una raza domina a otra. Queremos que el uranio se quede en la tierra y que la tierra sea devuelta a la gente que la cultiva. Queremos un sistema de energía que sea renovable, que no saque los recursos de la tierra sin devolverlos. Queremos que estos sistemas pertenezcan a la gente y a sus comunidades en vez de a las corporaciones, las que invariablemente convierten sabiduría en armas. Queremos que la farsa de Átomos para la Paz se acabe, que desmantelen las plantas nucleares, y dejen de construir plantas nuevas. Ésa es otra guerra contra la gente y el niño que nacerá en cincuenta años. Queremos que la producción acelerada de armas termine. No más bombas ni más invenciones increíbles para matar. Entendemos que todo está conectado. La tierra nos alimenta y finalmente nuestros cuerpos alimentarán la tierra. Por medio de nosotras, nuestras madres unieron el pasado humano con el futuro humano. Con este entendimiento, este derecho ecológico, nos oponemos a las conexiones monetarias entre el Pentágono y las corporaciones multinacionales y los bancos a los que el Pentágono sirve. Estas conexiones están hechas de oro y petróleo.
Nosotras estamos hechas de sangre y hueso, estamos hechas del dulce recurso, agua.
No vamos a permitir que sigan jugando estos juegos tan violentos. Si hoy estamos aquí un centenar de mujeres decididas, es seguro que volveremos con miles y cientos de miles más en los meses y años futuros.

La Acción de Mujeres al Pentágono, 1980, "No más invenciones increíbles para la muerte" in [http://www.wloe.org/WLOE-sp/introduccion/pentagono1980.html], acedido 30.12.10

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Feliz Solstício! Feliz Revolução Mental!


Edital informativo distribuído hoje, 21 de Dezembro, na reunião bi-anual de Solstício do Alto Concílio dos Seres Sensíveis e Inteligentes (ACSSI) - ano de dois mil e dez do calendário gregoriano, a decorrer em local secreto:

A Revolução da(s) Mente(s) Portuguesa(s)

Portugal recolocado na vanguarda do mundo civilizado!
Portugal inaugura a nova ordem do pensamento do século XXI!

O Portugal de Camões, de Pessoa, de Pascoaes, de Vieira e de tantos outros ilustres pensadores foi superado e tornado por fim realidade e visível, exemplo modelar, para os que nunca compreenderam como é que um país que tão insistentemente deu provas de tacanhez existencial e filosófica ao longo da sua modernidade e pós-modernidade, pôde engendrar e concretizar uma Revolução com Flores e sem Sangue – assunto todavia ainda por esclarecer mas cujo esclarecimento não cabe resolver neste edital! Fazendo juz à rainha D. Maria I, orgulho de todas as portuguesas e portugueses pela abolição da pena de morte e à grande mulher que foi a rainha D. Maria II pela proibição das práticas tauromáquicas em 1836, o demo reivindicou, escolheu legisladores e representantes políticos à altura da missão, e clamou:
Basta de sangue e tortura! Basta de miserabilismos existenciais! Queremos existir de uma forma plena, inovadora e sensível! Conquistámos o mundo no espaço geográfico com os Descobrimentos, conquistamo-lo de novo agora, no espaço da ética e da mente! Não vamos fazê-lo, como de costume, daqui a cem anos, quando já todos os outros o tiverem feito, fazemo-lo agora! Portugal é vanguarda inteligente, senciente e activa! Temos sol, ar e água, temos campo, montanhas, planícies, mar, rios e neve! Temos Inverno, Primavera, Verão e Outono! Temos o que temos, para que a Natureza extra-humana, a biosfera na sua totalidade e nas suas partes dominadas, seja por nós moralmente reconhecida como «fim em si mesmo» e integre o conceito de bem cósmico e supra-humano! A tradição jurídica humanista modernista deve ser reformulada, já que a Natureza possui valor intrínseco e como tal é digna de respeito! O conceito de «fim em si mesmo» atribuído apenas aos sujeitos humanos desde o Iluminismo deve ser alargado aos restantes sujeitos da Natureza e do Cosmos! Este tem sido o ponto de convergência do pensamento dos mais sérios pensadores da ecologia profunda. Nós, Portugal e portugueses, somos o país pioneiro no reconhecimento destes valores e na concretização de uma mudança de paradigma! Fartos de capitalismos, de consumismos, de reducionismos, de mecanicismos, de oportunismos e outros ismos, queremos a Vida! Queremos elevação ética e existencial!
A Natureza foi assumida como sujeito de direito, todos os seres não-humanos são pessoas jurídicas e… a meditação é praticada por todos sem excepção, uma hora por dia! Sim, porque surpreendentemente, Portugal é também o primeiro país do “mundo desenvolvido” a reconhecer de utilidade pública a prática da meditação transcendental! Em convénio com a David Lynch Foundation for Consciousness-Based Education and World Peace, o governo português tomou medidas efectivas de forma a proporcionar a todos os seus cidadãos o acesso quotidiano a esta prática de reconhecidos efeitos positivos no bem-estar individual e colectivo. Nas escolas, nos serviços públicos e privados, no parlamento, na cidade e no campo, campanhas de sensibilização e informação têm sido promovidas por todo o país, incentivando os mais cépticos a tomar contacto com os benefícios desta prática de custos zero. Uma hora de meditação por dia!, é o segundo exemplo de vanguardismo e liderança dado por Portugal ao Mundo. Interrogados sobre a inesperada iniciativa, os portugueses afirmaram entusiásticos e concludentes:
O século XX foi o da prossecução do PIB, o século XXI será o da prossecução do FIB! Não alcançámos o maior Produto Interno Bruto, tentaremos alcançar a maior Felicidade Interna Bruta!
E assim, mobilizados por iniciativas disseminadas através das redes sociais, dos variados gadgets e do dinamismo de agentes culturais, ensaístas, poetas, pintores, escultores, pensadores, gente de todas as proveniências e classes sociais, a nova Revolução tomou forma, saiu para a rua e para o espaço dinâmico do Mundo. Portugal teve a sua segunda revolução, a tão almejada Revolução das Mentes!

O Alto Concílio dos Seres Sensíveis e Inteligentes, reagiu rapidamente e com estima a estas boas novas através do seguinte comunicado:
É com regozijo que nesta celebração do Solstício, recebemos notícias tão auspiciosas. A atribuição do estatuto de «sujeito de direito» à Natureza pode efectivamente resolver alguns problemas graves, nomeadamente o problema da devastação ecológica e o abuso sobre os seres não-humanos, animais e não-animais, desencadeados por interesses de sujeitos ou empresas. Como é do conhecimento geral, este tipo de prepotência e violação é exercido frequentemente sobre os seres e estados naturais, que não sendo juridicamente defendidos por «interesses particulares designados», se apresentam em absoluto expostos à devassa do seu território, existência e integridade, em total imunidade legal dos agentes destruidores e infractores. Sendo regra do comportamento terráqueo nas sociedades ditas desenvolvidas, a legalidade e não a ética, Portugal criou deste modo condições legais para a defesa e preservação do que no foro da ética e da moral é legitimado por ser «vivo», por ser «natural», por «ser em si mesmo».
Ainda, e como é do conhecimento público, o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB) ou Gross National Happiness (GNH), tem como base o princípio de que a verdadeira evolução de uma sociedade humana acontece quando o desenvolvimento espiritual e o desenvolvimento material são simultâneos, assim se complementando e reforçando mutuamente. Os quatro pilares da FIB são a promoção de um desenvolvimento socio-económico sustentável e igualitário, a preservação e a promoção dos valores culturais, a conservação do meio-ambiente natural e o estabelecimento de uma boa governança.
O questionamento da tradicional visão humanista e radicalmente antropocêntrica característica dos modelos e práticas de vida nos últimos séculos no Ocidente, conduziu, num momento fulcral de questionamento da moderna pós-modernidade em crise, a esta visão cosmobiológica notável, num país e povo onde, talvez apenas Sokurov, pudesse supôr tais qualidades inesperadas ao afirmar, “(Portugal) É um país espantoso, talvez o mais misterioso da Europa. (…) Muitos portugueses foram pessoas geniais. Portugal será dos países onde há mais génios que não são conhecidos. São pessoas tristes que vivem para si, uma qualidade de experiência pessoal que os diferencia dos demais. (…) Vocês têm uma grande quantidade de energia escondida.”
Estamos, no Alto Concílio dos Seres Sensiveis e Inteligentes, agradavelmente surpresos com a extraordinária, louvável e significativa mudança de paradigma dos portugueses, que dizem «Basta!» aos modelos tradicionais de desenvolvimento económico-industrial-tecnológico que têm como objectivo primordial o domínio do outro e da Natureza! Felicitamos este Portugal universalista, cosmopolita que dá o exemplo, A Natureza enquanto sujeito de direito! A meditação como prática quotidiana!

Feliz Solstício! Feliz Natal! Feliz Ano 2011! Feliz Revolução Mental!

nota: adaptação do texto publicado em “Ideias Perigosas para Portugal”, Tinta-da-China, Lisboa, 2010.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

quiet places



horta . faial . julho 2010